Dados do primeiro semestre de 2018 revelam dados alarmantes dos assassinatos de Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans.
Somente no primeiro semestre de 2018, foram assassinadas 86 travestis e transexuais, sendo estas, a maioria do gênero feminino, negras e prostitutas atuando na rua. Ficando claro que o assassinato de nossa população tem um alvo preferencial, mas que não exime as demais existências trans da violência cotidiana e as vezes velada, de forma simbólica, religiosa ou psicológica.
Assassinatos na calada da noite, tiros, apedrejamento e facadas, normalmente precedidos de espancamentos, métodos de tortura e pouca possibilidade de legítima defesa são alguns dos aspectos que norteiam os crimes contra travestis e transexuais.
Houveram ainda 29 tentativas de assassinato, 07 casos de suicídio noticiados pela mídia, 19 mortes por transfobia socio-cultural e 33 casos de violações dos direitos humanos.
Este levantamento se baseia, principalmente, em reportagens que abordaram os assassinatos de pessoas travestis e transexuais e, também, por meio de informações que, por vezes, existem exclusivamente em redes sociais, como o Facebook ou através de envio pelas redes afiliadas.
Em 2018, firmamos o compromisso de nos aproximar e firmar parcerias importantes para este mapeamento. Desta forma, o IBTE e a ANTRA vem trabalhando incansavelmente para visibilizar estes dados e atuar de forma eficaz na veracidade das informações e trazendo a discussão para fora do movimento social.
ANTRA ENTREGA RELATÓRIO 2017 A CIDH
Viver no Brasil, o país que mais mata Travestis país que mais mata Travestis e Transexuais do Mundo, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU) é um desafio e tanto. Especialmente para uma população que oficialmente não tem reconhecida sua cidadania. Que não existe em dados reais, populacionais, demográficos ou qualquer outro que possa demonstrar em números suas existências ou o quanto estão excluídas, e como são empurradas para a marginalização. Hoje no Brasil, é mais fácil contar as pessoas trans assassinadas, do que fazer um levantamento populacional desta população.
No último ano, chegamos ao maior índice de assassinatos de pessoas trans dos últimos 10 anos. E mesmo assim, ainda é preciso “convencer” as pessoas que elas foram assassinadas pelo ódio. Não temos uma lei que criminalize a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero no Brasil, consequentemente, que criminalize ou qualifique esses assassinatos pela sua real motivação, a Transfobia.
A negação de tal motivação, é exatamente o que nos faz pensar o quanto a transfobia está naturalizada e é permitida em nossa sociedade. Negar a motivação transfóbica destes assassinatos é, antes de mais nada, jogar a culpa (por terem sido mortas) nas vítimas, ao tentar justificar que foram assassinadas – de forma quase sempre extrema – por estarem em ambientes violentos, em sua maioria na prostituição de rua ou sugerir que estavam envolvidas com atos ilícitos. É esquecer que foram o estado e a sociedade, com todos os seus mecanismos simbólicos de exclusão que as colocou ali, naquele lugar. O não-lugar, como gostamos de nos referir no movimento social.
E tendo sido colocadas ali pela violência transfóbica, as vezes simbólica, outras psicológicas ou mesmo físicas, elas têm que se apoderar do seu corpo para garantir a subsistência de suas vidas, exatamente naqueles mesmos locais, perigosos e marginais.
Ora, se elas são empurradas a estar neste local, muitas vezes de forma precoce por suas famílias, sem possibilidade de frequentar a sala de aula, e de lá dificilmente conseguem sair, e de lá tiram seu sustento. Como podem ao ser mortas, ter ignoradas exatamente o motivo que as colocou ali?
Parem de nos matar!
Fontes: