Temos em nossas mãos um importante instrumento de mudança política e social: o voto.
Durante muito tempo ouvimos falar que Travestis e Transexuais não votam. E de fato, acabávamos por não exercer nosso direito ao voto devido aos processos de exclusão, invisibilidade e silenciamento que nos são impostos historicamente e por não nos sentirmos representadas/os de alguma forma.
O fato é de que são comuns casos de desrespeito a nossas identidades de gênero e do nome social de nossa população por parte de mesários e demais pessoas que participam do processo eleitoral. O que, durante muitos anos, nos fez abrir mão de participar efetivamente da “democracia” pelo alto risco de exposição a situações humilhantes e vexatórias pelo não reconhecimento de nossa cidadania plena.
Porém, com o avanço nas discussões de muitas de nossas pautas e conquistas que temos alcançado na luta por direitos para a população de Travestis, mulheres transexuais e homens trans, surge a necessidade de [re]discutirmos uma maior participação no cenário político como um todo. Não apenas exercendo o direito ao voto mas (também) incentivando candidaturas trans, participando ativamente dos espaços de discussões e do diálogo político institucional.
Desde que passou a ser possível a inclusão do nome social no título eleitoral, bem como após a decisão do STF sobre a retificação dos registros civis das pessoas trans, nos vemos também ser alçadas a um outro patamar que nos cobra a reconhecer estes direitos como facilitadores de acesso, mas também sobre os posicionamentos que teremos frente aos deveres enquanto seres políticos que somos.
”PINK VOTE”
Sempre que nos aproximamos das eleições, vemos surgir uma quantidade enorme de “aliados” que lembram de nossa população apenas para capitalizar em cima de nossos votos.
Chamamos de ”Pink Vote” a tentativa de manipular travestis, muheres transexuais e homens trans a votarem em determinado/a candidato/a apenas pela promessa de conquistas que nunca se materializarão em direitos de fato.
Vemos ainda, pessoas assumirem uma identidade LGBTI apenas nesses períodos ou ainda aparecer ao lado de figuras LGBTI conhecidas, apenas para chancelar a aproximação com o movimento, mas sem nenhum tipo de compromisso real.
Fiquemos atentos/as a essas velhas práticas para que não sejamos usados/as novamente.
Não vamos mais aceitar ser manipulados/as, ter nossas pautas usadas como palanque eleitoral ou barganha por interesses outros senão aqueles que nos contemplam. Não cederemos mais nossos corpos e nossas bandeiras para representantes que não tem compromisso real, assumido publicamente e com histórico de atuação pela nossa causa.
PAUTAS
É muito importante resgatar o dialogo e as discussões sobre os projetos de Lei que nos beneficiem e construir estratégias para o avanço de nossas pautas. Precisamos garantir um combate efetivo ao avanço do fascismo e contra a perseguição de bancadas fundamentalistas. Incentivar as discussões sobre gênero e sexualidade nas escolas; regulamentação da prostituição – já que 90% de nossa população vive da mesma; discutir a descriminalização do aborto e das drogas; Pautar questões sobre a empregabilidade, acesso e permanência na educação; criminalização da LGBTIfobia, Lei de identidade de gênero, além de muitas outras demandas que precisam fazer parte de nosso dia a dia.
Nas próximas eleições vamos as urnas mostrar nossa força, para que voltemos a garantir avanços em prol de nossa causa. Além de exigir que a representatividade (com legitimidade e pertencimento), o diálogo com os movimentos e participação social efetiva estejam cada vez mais presentes em todos os espaços políticos.
Portanto, conclamamos a toda a população de Travestis e Transexuais, que reivindiquemos nosso lugar (de volta) na sociedade e que tenhamos a consciência de que nosso voto, organizado e consciente, pode ser decisivo para a mudança que desejamos.
O Voto é a sua forma de participação direta na democracia!
Não deixe de votar!
Lugar de Travesti é também na política e onde quisermos!
Seguem algumas dicas para ajudar na hora do voto:
– Procure conhecer o passado, as ideias e valores do candidato ou candidata. Se ele/a já se envolveu em escândalos de corrupção, comprou votos, foi cassado pela Justiça, renunciou a mandatos para escapar de punições ou se aliou a grupos envolvidos com essas práticas: simplesmente não vote nele/a!
– Não basta que os/as candidatos/as tenham a “ficha limpa”. É preciso conhecer as intenções e propósitos de cada candidato/a: quem financia a sua campanha? Quem ele/a realmente vai representar? Procure se informar. Exija dele/a uma vida compromissada, do mesmo jeito com que você procura conduzir a sua vida;
– Conheça mais a lei eleitoral: participe de palestras, reuniões e debates. Sua vida em comunidade exige que você esteja mais informado/a sobre assuntos tão importantes.
– Denuncie a compra de votos: quando uma pessoa aceita um benefício em troca do seu voto se condena a viver sem emprego, educação, segurança pública. Assim, o remédio hoje recebido em troca do voto poderá mais tarde custar a falta do hospital que salvaria a sua vida ou a de seu filho.
– Denuncie o desvio de recursos públicos para fins eleitorais. É muito grave que um candidato se utilize de bens e serviços públicos para ganhar as eleições.
– Tire fotos, grave ou filme se notar qualquer sinal de compra de voto ou de apoio eleitoral, utilizando o mal uso do dinheiro público, pois ajuda a comprovar a irregularidade na denúncia ao Juiz Eleitoral, ao Ministério Público ou até mesmo à Polícia.
– Não vote em pessoas que mudam de partido, como “quem muda de roupa”. Ao votar no/a candidato/a, não estamos votando só na pessoa, mas no partido, ajudando a eleger outros candidatos do mesmo partido ou coligação: por isso saiba quem são os outros candidatos da legenda.
– Procure saber se o candidato tem compromisso com a defesa da vida em todas as suas fases, bem como com a realização da Reforma Política, Reforma Agrária e com Direitos Sociais fundamentais: como criação de emprego e geração de renda, melhoria da saúde e da educação, defesa do meio ambiente e da Cultura da Paz. Cobre esse compromisso.
– Pense bem antes de votar, escolhendo pessoas que se prepararam para administrar (Presidente e Governador) ou fazer leis (deputado federal e estadual e para o senado) em benefício de toda a sociedade, nunca em proveito pessoal.
Não deixe para a última hora a escolha dos candidatos a deputado e senador.
Depois da eleição, acompanhe o trabalho dos eleitos!
Escrito por Bruna Benevides