
Entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, Brasília será o centro das atenções ao sediar a 5ª Conferência Nacional pelos Direitos das Mulheres, organizada pelo Ministério das Mulheres em parceria com o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres. O encontro será um marco na construção de políticas públicas que visam um futuro sem violência de gênero, com justiça social e plena dignidade para todas as mulheres.
A Conferência ganha relevância especial neste ano por sua composição diversa e representativa, com destaque para a participação paritária de mulheres negras e a presença de mulheres trans e travestis, que não apenas estarão no evento, mas o constroem desde dentro, como conselheiras e lideranças representativas vindas das delegações de todos os estados. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) foi a primeira instituição trans a integrar o Conselho como membro titular, ao lado do Fonatrans e do Inamur. Essa presença não é apenas simbólica: representa uma virada histórica que amplia as alianças entre diferentes movimentos de mulheres e fortalece o compromisso de que a luta feminista deve ser plural, interseccional e comprometida com todas as experiências de ser mulher.
A importância dessas presenças está no tensionamento e na renovação das formas de pensar o feminismo brasileiro. Se durante décadas os espaços de decisão política foram ocupados majoritariamente por vozes ligadas a uma hegemonia feminista, agora se abre espaço para diálogos e articulações históricas com aquelas que sempre estiveram à margem: mulheres negras, periféricas, indígenas, quilombolas, com deficiência, trans e travestis. Este movimento reafirma que não há futuro possível para a luta das mulheres sem o reconhecimento das diferenças e sem alianças concretas entre aquelas que historicamente resistiram em condições de maior vulnerabilidade.
A Conferência também será palco de uma homenagem especial a 60 mulheres que marcaram a luta no Brasil. Entre elas estão nomes como a ex-presidenta Dilma Rousseff, a ministra do STF Cármen Lúcia, Benedita da Silva, Maria da Penha, Marielle Franco, Jandira Feghali, Lélia gonzales, Luana Barbosa, Carolina Maria de Jesus, além de pesquisadoras, lideranças de movimentos populares, sociais, negros e feministas. De forma inédita, o marco se expande para incluir 12 mulheres trans e travestis, cujas trajetórias simbolizam resistência, pioneirismo e transformação social.

São elas: Jovanna Baby, Neon Cunha, Megg Rayara, Keron Ravache (in memorian), Katia Tapety, Erika Malunguinho, Erika Hilton, Duda Salabert, Leilane Assunção (in memorian), Benny Briolly, Rafa Damasceno e Cristiane Beatriz. Cada uma, em sua trajetória, representa avanços no campo dos direitos humanos, da política, da academia, da arte e da vida comunitária, compondo um mosaico potente da luta trans travesti no Brasil. Além disso, Dandara Ketlyn dara nome a uma das salas de debates e discussões.
Pioneirismo Trans na luta das Mulheres

Chopelly Santos, mulher trans pernambucana e atual vice-presidenta da ANTRA, marcou um momento histórico ao se tornar a primeira representante trans no Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (CNDM) representando a entidade. Sua presença nesse espaço não foi apenas simbólica: abriu caminhos fundamentais para a aproximação das lutas de travestis e mulheres trans ao feminismo brasileiro, projetando nossas vozes para dentro do próprio Ministério das Mulheres. Esse gesto pioneiro rompeu barreiras históricas de exclusão, afirmando que a luta das mulheres no Brasil só é completa quando contempla a diversidade de suas existências.
Chopelly foi desbravadora ao ocupar esse território político e institucional, pavimentando um percurso que permitiu à nossa população se reconhecer como parte inegociável da luta das mulheres brasileiras, reposicionando a agenda feminista em direção a uma prática mais plural, inclusiva e transformadora.
Assim, o protagonismo de mulheres trans e travestis neste espaço é um recado político: o feminismo brasileiro está vivo, plural e em movimento. A 5ª Conferência Nacional pelos Direitos das Mulheres não será apenas um espaço de debates, mas de reafirmação da democracia, de construção de propostas concretas e de fortalecimento de alianças capazes de enfrentar a violência, o racismo, a transfobia e todas as formas de opressão.
Mais do que nunca, é o momento de afirmar que nenhuma mulher será deixada para trás!
