Pesquisa inédita explora lobby antitrans da Matria com apoio de universidades e entidades de direitos humanos

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Members of the transgender and gender non-binary community and their allies gather to celebrate International Transgender Day of Visibility, March 31, 2017 at the Edward R. Roybal Federal Building in Los Angeles, California. International Transgender Day of Visibility is dedicated to celebrating transgender people and raising awareness of discrimination faced by transgender people worldwide. / AFP PHOTO / Robyn Beck (Photo credit should read ROBYN BECK/AFP via Getty Images)

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) organizou o Dossiê Matria: o lobby antitrans disfarçado de defesa das mulheres e crianças, um documento que se firma como marco histórico de investigação, mobilização e resistência diante da crescente onda antigênero que se espalha pelo Brasil e pelo mundo.

O estudo é fruto de uma ampla parceria entre a ANTRA, o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT+ da Universidade Federal de Minas Gerais (NUH/UFMG), o Sexual Politics Watch (SPW/ABIA) e o Coletivo Chama, com apoio institucional de organizações de referência como ONG Criola, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (RFS), Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA) e Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

O dossiê também conta com o respaldo científico de núcleos e grupos de pesquisa de 11 universidades federais, entre eles o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/UERJ), o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), o Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades (GEMA/UFPE), o Núcleo de Estudos sobre Diversidade Sexual e de Gênero do CEAM/UnB, o Núcleo Trans Prof. Roberto Farina (UNIFESP), o Laboratório Trans da UFSC, o MatematiQueer (UFRJ) e o Núcleo de Pesquisa em Sexualidade e Relações de Gênero (UFRGS).

Com 55 páginas, o documento elaborado ao longo dos dois últimos anos examina os principais pontos da atuação da chamada Associação de Mulheres, Mães e Trabalhadoras do Brasil – Matria, expondo sua conexão com redes internacionais da ultradireita e com a agenda antigênero global. A investigação revela que, apesar de se apresentar como uma organização voltada à defesa das mulheres e crianças, a Matria tem direcionado seus esforços à produção de narrativas e ações judiciais que buscam restringir direitos fundamentais das pessoas trans — entre eles o direito à autodeterminação de gênero, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 4275), e a criminalização da homotransfobia (ADO 26).

“O dossiê cumpre um papel essencial de transparência e de responsabilidade social. Mostramos que há uma articulação perigosa entre discursos supostamente feministas e práticas que reforçam a necropolítica de gênero, desumanizando pessoas trans sob a aparência de defesa e proteção das mulheres”, afirma Bruna Benevides, presidenta da ANTRA.

A publicação detalha ainda a incidência da Matria em espaços institucionais e legislativos, sua aproximação com setores ultraconservadores e a disseminação de pânicos morais em torno de temas como infância, esportes, saúde e identidade de gênero. Ao reunir evidências documentais, decisões judiciais e análises comparadas, o dossiê se consolida como uma ferramenta indispensável para pesquisadores, formuladores de políticas públicas, operadores do direito e movimentos sociais comprometidos com a democracia e os direitos humanos.

Para Sonia Corrêa, coordenadora do Sexual Politics Watch (SPW) e pesquisadora associada à ABIA,

“o Dossiê oferece dados empíricos consistentes para compreender o fenômeno contemporâneo das ofensivas antigênero, suas origens internacionais e suas formas de infiltração no campo progressista. Ele traduz, em linguagem acessível e rigor analítico, o que está em jogo: a tentativa de transformar o discurso de proteção das mulheres em instrumento de exclusão e censura”.

A pesquisa chama atenção sobre como as teses da Matria já foram rechaçadas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que reconheceram o caráter discriminatório e a falta de fundamentação de suas “notas técnicas” e ações judiciais. Em contraste com as decisões das cortes e com os tratados internacionais ratificados pelo Brasil, a organização tenta impor retrocessos disfarçados de debates acadêmicos ou jurídicos, desconsiderando o princípio da dignidade humana e a jurisprudência consolidada em matéria de direitos trans.

Além da denúncia, o dossiê é um convite à reflexão coletiva sobre a urgência de reconstruir alianças éticas, políticas e acadêmicas em defesa da pluralidade e da vida. “Não basta identificar as ofensivas antigênero. É preciso enfrentá-las com produção de conhecimento, diálogo intersetorial e mobilização social. O Dossiê Matria é um chamado à ação”, reforça Benevides.

O documento está disponível para download gratuito no site da ANTRA (www.antrabrasil.org) e será distribuído em formato digital para universidades, órgãos públicos, coletivos feministas e organizações da sociedade civil.

Baixe a seguir:

ANTRA cobra prorrogação de prazo e denuncia falhas no acesso ao uso do nome social no ENEM 2025

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Brasília, 6 de junho de 2025.

Direito histórico de pessoas trans é ameaçado por burocracia e falhas na comunicação do INEP

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) publicou nota pública em que manifesta preocupação com os obstáculos enfrentados por pessoas trans e travestis para o uso do nome social no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2025. A entidade classifica o direito ao nome social como uma conquista histórica do movimento trans no Brasil e cobra do INEP a prorrogação do prazo para que mais pessoas possam garantir esse reconhecimento no exame.

De acordo com a ANTRA, muitas pessoas não conseguiram registrar o nome social devido à exigência de que ele constasse previamente na base de dados da Receita Federal — condição que, embora válida, não foi amplamente divulgada de forma acessível. A ausência de informações claras e o curto prazo de atualização, de apenas três dias úteis, comprometeram o acesso ao direito, resultando em exclusões que podem gerar constrangimentos, violências e impacto direto no desempenho no exame.

A entidade reforça que desde 2014 o uso do nome social no ENEM representa um marco para o reconhecimento da dignidade, identidade de gênero e cidadania de pessoas trans. Ao longo da última década, essa medida tem sido uma ferramenta de inclusão e permanência em ambientes educacionais.

Em sua nota, a ANTRA reconhece como avanço estruturante a unificação de bases de dados entre Receita Federal e órgãos do governo federal, como o gov.br e o Meu SUS Digital. Segundo a organização, essa integração — resultado de articulações com o Ministério Público Federal — tem contribuído para o respeito ao nome social autodeclarado, especialmente de quem ainda não retificou seus documentos.

No entanto, a atualização dessas informações na Receita Federal é de responsabilidade individual e, por isso, a entidade defende que o Estado tem o dever de garantir ampla divulgação e orientação. A ausência de materiais didáticos, acessíveis e com linguagem inclusiva por parte do INEP foi criticada, mesmo diante de recomendações do Ministério Público Federal nesse sentido.

Diante do cenário, a ANTRA solicita, em caráter excepcional, que o INEP prorrogue o prazo de inscrição no ENEM, por ao menos 15 dias, para viabilizar a inclusão do nome social. A organização também orienta que todas as pessoas trans interessadas em utilizar o nome social no ENEM 2025 realizem a inclusão ou verifiquem a atualização diretamente na base da Receita Federal, para assegurar o reconhecimento em todos os processos que utilizam esses dados como referência.

A presidenta da ANTRA, Bruna Benevides, afirma que “o direito ao nome social não é uma concessão: é resultado de luta, mobilização coletiva e resistência histórica”. Ela reforça que a organização permanecerá vigilante na defesa da cidadania plena da população trans e no combate à desinformação, ao pânico moral e às tentativas de apagamento das conquistas já consolidadas.

Acesse e leia a nota na íntegra a seguir:

ANTRA convoca travestis e mulheres trans a ocuparem as Conferências de Mulheres

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A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) publicou nesta quarta-feira (28) uma carta aberta dirigida às travestis e mulheres trans de todo o Brasil, convocando sua participação ativa nas etapas municipais, regionais, estaduais e nacional da V Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, que acontecerá entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro de 2025.

Com o tema “Mais Democracia, Mais Igualdade, Mais Conquistas para Todas”, o evento marca a retomada das conferências de direitos das mulheres, com foco no diálogo entre sociedade civil e poder público. Na carta, a ANTRA destaca a urgência da participação trans nesses espaços: “Travestis e mulheres trans não são o ‘outro’ das mulheres. Nós somos mulheres. E nossa luta é pela vida de todas nós.”

A organização, pioneira na ocupação trans do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, atua hoje na comissão organizadora nacional da conferência. Em tom firme e político, a carta afirma que a presença de mulheres trans nesses espaços é uma forma de romper com séculos de invisibilização e construir políticas públicas que atendam à diversidade real da população feminina brasileira.

Política, vida e resistência

A carta também denuncia o avanço da agenda antigênero, classificando-a como um “projeto de morte” que ameaça não apenas as existências trans, mas toda a autonomia das mulheres. “A mesma lógica que tenta nos apagar é a que tenta controlar os corpos das mulheres cis, criminalizar o aborto, desmontar políticas públicas e inviabilizar a educação sexual”, pontua o documento.

Entre as propostas defendidas pela ANTRA estão o reconhecimento legal dos assassinatos de travestis e mulheres trans como feminicídios; políticas específicas para mães solo trans; acesso à moradia, saúde integral, programas de renda, proteção social e presença garantida nas estruturas decisórias das políticas para mulheres.

Para além da inclusão: protagonismo

A carta convoca de forma especial as travestis e mulheres trans negras, indígenas, do campo, das águas e das florestas, vivendo com HIV, migrantes, idosas, com deficiência, em situação de rua ou egressas do sistema prisional, a ocuparem as conferências. O objetivo é disputar os rumos das políticas públicas, com legitimidade para propor, representar e decidir.

“Este é o momento de ocupação. De proposição. De decisão. Porque nenhuma política de mulheres será realmente eficaz se não contemplar todas as mulheres — e nós somos muitas, somos diversas e estamos em toda parte”, finaliza a carta.

A V Conferência Nacional é organizada pelo Ministério das Mulheres e as etapas locais seguem ocorrendo em todo o país. Mais informações podem ser encontradas nas redes do Ministério ou na plataforma Brasil Participativo: https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/CNPM5

Cronograma de conferências:

– Conferências Municipais e Regionais – Entre 28 de abril e 28 de julho de 2025.
– Conferências Estaduais e Distrital – Entre 1° de julho e 31 de agosto de 2025.
– A etapa nacional acontece de 29/09 a 01/10/2025, mas as etapas locais estão acontecendo AGORA!

Baixe a carta completa a seguir:

ANTRA e ABGLT denunciam retrocessos do CFM na saúde de pessoas trans à CIDH e cobra implementação urgente do PAESPopTrans

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A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) junto a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo (ABGLT), encaminharam ofício à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), denunciando a Resolução nº 2.427/2025 do Conselho Federal de Medicina (CFM) por representar um grave retrocesso nos direitos humanos e no acesso à saúde da população trans e travesti no Brasil.

A nova normativa do CFM proíbe o uso de bloqueadores hormonais para crianças e adolescentes trans, eleva para 18 anos a idade mínima para início da hormonização e para 21 anos os procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero. A medida revoga direitos anteriormente assegurados pela Resolução nº 2.265/2019, desconsiderando evidências científicas, protocolos internacionais e o sofrimento real vivenciado por jovens trans no país.

“A decisão do CFM ignora as recomendações da própria comunidade científica e os parâmetros dos direitos humanos nacionais e internacionais. Trata-se de uma violação à dignidade de crianças e adolescentes trans e um grave ataque ao direito à saúde integral e sem discriminação”, afirmou Bruna Benevides, presidenta da ANTRA.

Denúncia internacional e cobrança por políticas públicas

No documento enviado à CIDH, a ANTRA também cobra providências do Estado brasileiro quanto à ausência de políticas públicas efetivas para a população trans, com destaque para a não publicação e implementação do PAESPopTrans – o Programa de Atenção Especializada à Saúde da População Trans.

Anunciado publicamente pelo Ministério da Saúde em fevereiro e dezembro de 2024, e citado em resposta oficial do Brasil à ONU, o PAESPopTrans foi construído com ampla participação social e técnica ao longo de 2023, com o objetivo de substituir o Processo Transexualizador por uma política mais ampla, atualizada e baseada na CID-11 da OMS. Ainda assim, o programa segue sem qualquer previsão de publicação oficial, frustrando expectativas da sociedade civil e colocando vidas trans em risco.

Ação no STF

Além da denúncia à CIDH, a ANTRA também é autora da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7806, movida em parceria com o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). A ação pede a suspensão imediata da Resolução nº 2.427/2025 do CFM e o retorno da Resolução nº 2.265/2019, garantindo o acesso a terapias hormonais e procedimentos afirmativos conforme as evidências médicas e o respeito à autonomia das pessoas trans.

Compromissos internacionais devem ser cumpridos

A ANTRA reafirma que a resolução do CFM contraria a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, tratados internacionais ratificados pelo Brasil e os entendimentos da CIDH e da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que reconhecem a identidade de gênero como parte da dignidade humana.

“Não aceitaremos retrocessos nem omissões. O Brasil tem o dever de assegurar políticas públicas inclusivas e garantir o direito à saúde da população trans em todas as fases da vida. Exigimos a revogação imediata da resolução do CFM e a publicação urgente do PAESPopTrans”, reforça Bruna Benevides.

NOTA DA ANTRA ACERCA DO PRONUNCIAMENTO DO MINISTÉRIO DAS MULHERES PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

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ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) expressa preocupação sobre o pronunciamento do Ministério das Mulheres em relação ao Dia Internacional da Mulher.

Embora tenha se falado dos importantes avanços e conquistas para as mulheres no último ano, nos chamou atenção a completa ausência de ações e políticas para travestis e mulheres trans, especialmente em um país onde enfrentamos altos índices de violência e violações de direitos humanos, e as ações governamentais tem sido ausentes no sentido de proteger e garantir direitos a essa comunidade.

Hoje no Brasil, temos mais de 300 projetos de leis anti-trans e 77 leis transfóbicas em vigor, há uma explítica tendência de retrocesso em relação aos direitos das pessoas trans e insistentes tentativas de institucionalização da transfobia em diversos âmbitos. Além disso, políticos e perfis antitrans tem radicalizado de forma prioritária uma agenda política contra nossas existências.

Consideramos um erro de estratégia não aproveitar o pronunciamento em rede nacional para contribuir no processo de humanização de nossa comunidade, onde se optou por recuar das necessidades de um grupo tão vulnerável, legitimando um caminho para o fortalecimento de posições transexcludentes.

Notamos ainda a falta de referência às pessoas transmasculinas e não binárias quando se mencionou a luta pela dignidade menstrual, uma omissão significativa e preocupante.

Além disso, no contexto político global onde se observa um aumento dos ataques contra a comunidade trans, urge que os compromissos assumidos junto aos movimentos populares sejam posicionados de forma firme, pública e inegociável.

Se omitir e atuar para invisibilizar institucionalmente as pessoas trans é nos direcionar ao genocídio que segue ceifando vidas trans todos os dias.

A ANTRA aponta sobre a importância de revisar essa posição e garantir que as pautas trans sejam incluídas e consideradas como legítimas para a defesa dos direitos humanos, assim como na luta contra a misoginia e da violência de gênero, e no enfrentamento de todas as formas de opressão.

A falta de apoio às pessoas trans, e o retrocesso nos direitos dessa população, pode resultar em uma situação ainda mais degradante, vulnerável e perigosa para a nossa comunidade. Não podemos ser deixadas de lado em nome de uma governabilidade que fragiliza nossas existências.

É fundamental, portanto, que este diálogo seja mediado de forma transparente e comprometida, e que as pessoas trans sejam reconhecidas e protegidas em todas as esferas da sociedade, inclusive nos órgãos governamentais. Ou por acaso não somos mulheres e merecemos dignidade, cidadania e respeito?

O dia 8 de março novamente ficará marcado como um dia triste para a comunidade trans pelo não reconhecimento de nossas identidades. E cada recuo do governo sinaliza que vidas trans estão longe de serem vistas como importantes e dignas de direitos.

Ante ao exposto, mantemos o espaço de diálogo aberto como tem sido feito até aqui, e seguimos firmes na defesa intransigente dos direitos para a população de travestis e pessoas trans junto a luta de todas as mulheres.

Brasil, 8 de Março de 2024

Dia internacional de (quase) todas as mulheres

Associação Nacional de Travestis e Transexuais